Simplesmente Dorcila

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ANOS INOCENTES


Catanduva, interior de São Paulo. Década de sessenta. Baladas ao cair da tarde, Roberto Carlos, música italiana, rock, twist, hully-gully. Ray Conniff era obrigatório. "DJ's" fazendo suspense com as músicas preferidas. Ninguém ficava sem dançar.

"O Candelabro Italiano" foi o filme do ano. As mulheres ficavam enlevadas. "Al di la” estourando nas paradas. Moçoilas suspirando por Troy Donahue. Suzanne Pleshette era tudo o que cada uma queria ser, em um tempo em que ser morena contava pontos.

Os filmes de faroeste estavam na moda e John Wayne era o grande herói. Cada soco, um nocaute. E o chapéu nem se mexia. Mas ninguém se importava com essas imperfeições técnicas. O que valia era o enredo, a diversão.

Ah, o primeiro namorado! Beijos roubados no cinema. Coração batendo acelerado ao ver seu amor passar. O footing. Ridículo, pensando hoje. Dá para imaginar uma legião de moças passeando de braços dados em volta de uma praça, enquanto a ala masculina ficava parada, só olhando? Inimaginável! Mas assim começavam quase todos os namoros. No footing da praça.

"Seu" Ataliba, o pipoqueiro, com seu carrinho "Flor da Noite", sabia quem namorava quem e dava dicas se “ele” ou “ela” já havia passado por ali. E, com isso, ia vendendo sua pipoca com pimenta. E as famosas enquetes? Circulavam tanto quanto as sofisticadas agendas atuais. Era pura emoção! “O que será que ele vai responder?”. Ansiedade a mil!

Carnaval! Cheiro de carnaval era cheiro de lança-perfume. Época inocente, em que o lança-perfume era mesmo só para perfumar o carnaval. Óculos de plástico para se proteger dos engraçadinhos que fulminavam os olhos dos distraídos com o jato do lança-perfume. Fantasias de cetim. Matinês nos clubes. Chuva de confetes e serpentinas.

A moda do vestido tubinho, dos vestidos de brocado nos bailes de formatura. Sorvete com coca-cola. O bambolê. Tudo superfashion. A primeira fotonovela de amor. Tardes de domingo na porta do cinema. A garotada trocando gibis. Estratégias para distrair o porteiro do cinema e entrar nas sessões de filmes proibidos para menores de dezoito anos.

Desfile de Sete de Setembro. As meninas mais bonitas e desenvoltas eram escolhidas para balizas. As demais, para porta-bandeira ou, simplesmente, para participarem da caminhada. Desfile interminável! Sol do meio-dia. Pensamento longe, na comida da mamãe, no sorvete do “Café da Esquina”. Tempo de sonhos. Sonhos simples, realizáveis.

Amigos de infância, amigos de escola, amigos da pré-adolescência. Saudade...

Dorcila Garcia
Enviado por Dorcila Garcia em 16/06/2007
Alterado em 01/07/2008


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