INSÔNIA
Um dia destes, bateu aquela insônia insistente, quase invencível, refratária aos mais eficazes tranqüïlizantes. Chazinhos com mel, leite morno, receitas da vovó. Dona Insônia, placidamente, tomava todas aquelas beberagens como se fossem meros aperitivos. A danadinha escarneceu de tudo e continuou ali, firme e impávida, parecendo disposta a ficar comigo eternamente. Matreira como ela só, veio chegando assim, bem de mansinho, como quem não quer nada. O relógio digital exibia sem pudor seu placar noturno. Parecia até provocação. Meus olhos estavam tão abertos como se o mecanismo de movimento das pálpebras tivesse emperrado. Àquela hora da madrugada, a TV já estava à mercê dos “poltergeits”. Nem um mísero filme em dvd para assistir eu tinha! A velha fita de vídeo só continha fragmentos de novelas, programas insossos, reportagens com prazo vencido, tudo misturado, sobreposto, meio insano. Amanheceu...e nada! Pensei: “E se eu terminar de escrever aquele conto que anda empoeirado como um brinquedo velho?” Peguei caderno, caneta e prancheta, para escrever na cama, que não sou boba nem nada, porque o frio tem andado um tanto sádico este ano. Fiz pose de escritora. Abajur aceso, olhos perdidos na penumbra do quarto, fiquei esperando surgirem as palavras certas. Quem dera! Nem um artigo definido consegui escrever! Minha inspiração devia estar a quilômetros de distância, se esbaldando na balada com meu sono fugidio... Dorcila Garcia
Enviado por Dorcila Garcia em 27/06/2007
Alterado em 09/07/2007 |