SÍNDROME DE GRETA (*)
Ela sente que é chegada a hora. Por detrás das cortinas, divisa a platéia silenciosa, quase vazia. Percebe que a maior parte do público é formada por amigos fiéis, que sempre estiveram ao seu lado em sucessos e fracassos, em todas as temporadas. Pobre ilusão! Não havia se dado conta de que não mais fazia parte daquele universo onde um dia chegara cheia de sonhos. Deixara-se enganar pelo seu coração carente de amor. Mas não guarda mágoas nem rancores dos que não vêm mais. Sabe que é a dinâmica da vida. Por um instante, sente vergonha da decisão que tomara. Quer ter forças para enfrentar os maus tempos que estão por vir, mas sabe que não tem. Quer ser guerreira, mas é a presa que foge amedrontada. Sente-se covarde, mas não sabe lidar com a sombra do esquecimento. Então, adentra o palco, com um misto de altivez e tristeza no semblante e, ao cessarem os aplausos, diz: - Amados, vim me despedir. Estou saindo de cena, deixando livre meu camarim. Carrego na mala lembranças e saudades. Sei que novos sonhadores virão e partirão também, e não quero ser aquela que apaga as luzes ao final do espetáculo. Não me perguntem se estou feliz, porque deixo aqui um pedaço de minha alma. Não me questionem se vou encontrar a felicidade, porque não saberei reconhecer quem jamais esteve comigo. Sei apenas que estou voltando para casa e lá quero permanecer. Longe dos refletores que me escravizam, estarei sozinha na penumbra do meu quarto. Guardem com vocês o melhor de mim, para que eu me torne inesquecível. OBS: Conto inspirado em passagens da vida de Greta Garbo, talvez o maior de todos os mitos do cinema. Garbo que alimentou a eternidade de sua imagem a partir de sua reclusão voluntária em 1941, quando atuou em seu último filme, Duas Vezes Meu, de George Cukor. Greta Garbo também é conhecida por sua célebre frase: “I Want to be alone” (Eu quero ficar sozinha), que supostamente teria dito quando decidiu se afastar do cinema e das luzes da ribalta. Créditos de imagem: http://www.vivance.ch/cinema/Gallery/pages/image043.html Dorcila Garcia
Enviado por Dorcila Garcia em 15/07/2007
Alterado em 23/08/2012 |